domingo, 22 de novembro de 2015

Os 2ºC

Al Bartlett, professor de Física da Universidade do Colorado, dizia que o principal problema da espécie humana era a sua incapacidade de compreender o crescimento exponencial. A esta constatação já tinha chegado, celebremente, Thomas Malthus, que procurou sem sucesso alertar os seus contemporâneos para o problema do crescimento populacional.
Há limitações cognitivas do Homo sapiens que são do conhecimento geral. Não é intuitivo, por exemplo, que um corpo accionado por uma força deva continuar perpetuamente em movimento retilíneo e uniforme. As bolas acabam por parar, seja qual for a força do chuto, e temos que "acelerar" permanentemente os carros para os manter em movimento. Não há aqui, porém, conflito entre os conhecimentos empírico e científico porque o primeiro funciona na vida do dia a dia, enquanto o segundo se aplica no planeamento das missões espaciais. 
Mas os cismas entre a ciência e o senso comum têm consequências importantes quando interferem com processos de tomada de decisão politica. 
Uma outra incapacidade humana é a de compreender a não-linearidade. Pois não é verdade que quanto maior for a força do pontapé mais longe chegará a bola? Seguramente que se chegámos até aqui com uma temperatura média global próxima do 1ºC acima dos níveis pré-industriais, o pior que pode acontecer se subirmos até aos 4 ou 6ºC no fim do século é termos que dispensar os pullovers. Teremos uma crise no mercado da roupa de inverno, seguramente, mas pensem na expansão do comércio de havaianas e bermudas. E, já agora, se a temperatura demorou 200 anos a subir 1ºC, como é possível que suba 5 graus em menos de 100?
E no entanto, em sistemas complexos as interações dos fatores não são lineares. Empurrar um sistema ao longo de uma das suas variáveis pode ter no início uma resposta linear: 1A implica 1B, 2A implica 2B, se voltarmos a 1A voltaremos a 1B. Porém existem frequentemente limites para lá dos quais se produz uma alteração brusca, imprevisível e... potencialmente irreversível.
Em: Beisner, B. E. (2012) Alternative Stable StatesNature Education Knowledge 3(10):33
Os mais brilhantes geofísicos do planeta, usando os mais sofisticados modelos implementados nos mais poderosos super-computadores avisam que uma destas alterações pode acontecer se a temperatura do planeta subir mais de 2ºC. Essa é a parte fantástica- temos um aviso. Mas é impossível prever o que pode acontecer depois disso. Sabemos no entanto que, com o degelo da Antártida e a modificação da circulação oceânica profunda, desaparecerá o clima tal como o conhecemos e com ele, provavelmente, a civilização.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Notas de um político impreparado (2)

Aspirantes a políticos e partidos pequenos podem de repente encontrar-se em situações nas quais a sua posição é decisiva. Nessas alturas os holofotes da atenção mediática expõem de forma cruel as fragilidades de uma campanha feita com base em utopias, academicismos e outros amadorismos. De repente, é preciso descer à dura realidade do conflito com outras ideias mas ao mesmo tempo aproveitar a oportunidade de fazer a(lguma) diferença. Rápido, o que se decide?
Nestas situações são precisos algoritmos, heurísticas que permitam encontrar o equilíbrio entre o que é desejável e o que é possível. Aqui ficam 3 contributos:
1.Discutir objetivos e não meios. É mais fácil concordar em objetivos do que nos meios para os atingir. Ora traçar o rumo é que é importante, porque a partir daí qualquer avanço é ganho.
2. Maximizar o investimento. Não procurar chegar a tudo. Os esforços devem concentrar-se em procurar a medida chave com a qual seja fácil concordar mas que, depois de implementada, tenha um efeito em cascata para o lado que se pretende.
3. Saber esperar. Deixar claro aos eleitores que este não é o nosso caminho mas que não é incompatível com ele. Assegurar (e ter a convicção) de que os objetivos finais não se perdem, apenas se adiam. Aproveitar a onda para promover a visão alternativa, ao mesmo tempo que se demostra a responsabilidade do compromisso.